Cividade de Afife – Âncora, votada ao abandonado
A Associação de Protecção e Conservação do Ambiente – APCA, no âmbito do ciclo de visitas que tem vindo a efectuar, no ano em curso, ao património natural e construído do Alto Minho está muito preocupada com o estado de abandono em que se encontra o espaço arqueológico vianense conhecido por Cividade de Afife-Âncora, localizado no sítio da “Subidade” da freguesia de Afife, concelho de Viana do Castelo. Mencionada já pelo Padre António Carvalho da Costa (1650-1715), trata-se de uma das estações arqueológicas castrejas mais importantes do Noroeste Ibérico, não só devido à área que ocupa, maioritariamente, no concelho de Viana do Castelo, mas também ao espólio encontrado nas diversas intervenções arqueológicas efectuadas, nos últimos 130 anos, por figuras cimeiras da arqueologia nacional e europeia, como por exemplo, entre outros, Martins Sarmento, Cristopher Hawkes, Abel Viana, Sousa Oliveira e Armando Silva. Mais recentemente, foi com os trabalhos do reputado arqueólogo Prof. Armando Coelho Ferreira da Silva que a Cividade de Afife-Âncora passou a ser conhecida mundialmente, após um ciclo de intervenções arqueológicas, na década de oitenta do século passado, com o apoio do município caminhense, em que foram postas em prática metodologias arqueológicas inovadoras e de grande rigor científico no estudo da cultura castreja. Destas escavações resultou um valioso espólio que se encontra patente ao público no exemplar Museu Arqueológico que a Câmara Municipal de Caminha instalou num belo edifício,
A designação Cividade de Âncora, geradora de grande polémica em Afife, passou a partir de
A Cividade de Afife-Âncora é um importante povoado da Idade do Ferro com indícios de romanização, localizado a cerca de
Referenciada e aconselhada a sua visita em diversos roteiros turísticos de promoção do concelho e da região, deparamos com uma estação arqueológica emblemática da cultura castreja do Noroeste Ibérico, completamente votada ao abandono, tomada por vegetação infestante, actos de vandalismo e recentemente, irracionalmente, desvalorizada com a implantação de uma antena de comunicações no seu principal trilho de acesso. Trata-se de uma imagem da região verdadeiramente impensável e incompreensível, que no mínimo deveria levar à demissão e responsabilização de quem tem a incumbência de tratar do Património Cultural, se porventura essas pessoas tivessem vergonha e brio enquanto profissionais e representantes da defesa e salvaguarda dos bens públicos. É deveras lamentável, em pleno século XXI, que a dezena de quilómetros que separa esta estação arqueológica das desproporcionadas mordomias dos responsáveis por esta situação, profundamente, lesivas do interesse público, sejam a justificação para o estado em que se encontra este bem patrimonial vianense. Este comportamento sistemático de desleixo e que corre mundo através dos inúmeros turistas que visitam o espaço em causa, remetidos pelos roteiros turísticos e museus onde se encontra o espólio desta estação arqueológica, é apontado como um dos aspectos mais negativos da imagem da região. Salienta-se que a Cividade de Afife – Âncora encontra-se dotada de um óptima estrada de acesso, construída há cerca de 18 anos, inserida num projecto de valorização do património cultural vianense, que tinha por finalidade entre outros aspectos a constituição de um pólo de atracção turística, no domínio da cultura castreja na região. Passado todo este tempo e no tão apregoado desenvolvimento sustentável e vida saudável depara-se, infelizmente, com este cenário condenável, imagem fidedigna da atenção dispensada e da forma como se trata o Património Cultural na tão propalada urbe dita saudável e amiga do ambiente. Como sabiamente diz o povo, temos o que escolhemos, todavia a situação da Cividade de Afife-Âncora não deixa de ser demonstrativa de que algo está mal e necessita de uma rápida alteração, porque mais do mesmo significará, certamente, a manutenção destas situações lesivas de um património colectivo, cuja preservação urge, senão queremos assistir à continuidade do definhamento da nossa identidade cultural.
Estamos esperançados que os responsáveis por estas situações não continuarão a castigar os afifenses e os cidadãos em geral, com este tipo de práticas, porque tal atitude será mais uma facada no desenvolvimento da região e os cidadãos já não toleram estes comportamentos reincidentes. Seja como for e considerando a importância, desta estação arqueológica, no contexto nacional e europeu, não será já demasiado tempo, os cerca de 18 anos decorridos, com vista à concretização do projecto de musealização da cividade de Afife-Âncora e a criação de um núcleo museológico em Afife, onde seja possível observar o diverso espólio das estações arqueológicas afifenses?
Afife, 24 de Agosto de 2009
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