A Criação de uma Reserva Marinha pode ajudar a combater a Morte de Golfinhos no Alto Minho
Depois dos dois últimos cetáceos arrojados mortos em Janeiro último, tal como na altura informamos, a APCA - Associação de Protecção e Conservação do Ambiente, procedeu a nova identificação e recolha dos dados biométricos, de mais dois mamíferos marinhos arrojados mortos no litoral vianense. Um dos exemplares foi arrojado na praia de Afife, 30 metros a norte do parque de estacionamento e o segundo cetáceo, num troço de costa rochoso, nas proximidades do Moinho do Moca na freguesia de Areosa. O exemplar arrojado em Afife era uma fêmea adulta e na Areosa um macho adulto pertencentes à família Delphinidae, espécie Delphinus delphis, vulgarmente designados por golfinhos comuns, com cerca de 70-80 Kg e um comprimento total de 1,80-1,90 m.
O cetáceo arrojado na Areosa apresentava-se já num estado muito adiantado de decomposição o que leva a supor que a sua morte terá ocorrido, eventualmente, nos finais do ano transacto, tendo sido nas últimas semanas arrastado pela forte ondulação e correntes marítimas até à costa areosense. O golfinho arrojado na praia de Afife, no inicio desta semana, tinha morrido à menos de 24 horas, apresentando a barbatana caudal decepada e marcas de redes de pesca, levando estes indícios a aventar a hipótese de que terá morrido afogado, aprisionado em redes de pesca localizadas, ao largo da costa galega ou portuguesa, tendo sido lançado ao mar próximo de terra, após as redes terem sido colhidas.
Em 2008 eleva-se já a 4 o número de cetáceos arrojados mortos no Alto Minho, situação que não deixa de ser preocupante já que em 2007 registaram-se 8 arrojamentos e neste mês e meio de 2008 já contamos com 4 registos, isto é, 50% dos registos de 2007. Salienta-se que, nos últimos 25 anos, o arrojamento de mamíferos marinhos, já mortos, no litoral do Alto Minho, se eleva a mais de duas centenas e meia.
O Delphinus delphis no espaço marítimo do noroeste ibérico, encontra-se, essencialmente, em mar aberto com mais de 180 m de profundidade, isto é, a menos de 10 Km da costa, podendo, esporadicamente, penetrar em estuários, rias e baías abrigadas. Esta espécie de golfinhos é muito sociável e ocorre em grupos, podendo reunir entre 10 e 500 indivíduos, embora no Minho os indivíduos de um grupo, raramente, ultrapassem os 20 exemplares. Emitem vocalizações diversas e intensas que podem mesmo ser ouvidas fora de água, durando os respectivos mergulhos entre 2 a 8 minutos, sendo igualmente conhecidos pela rapidez dentro de água e comportamento exuberante, executando com frequência saltos acrobáticos, chapões na água e numerosas brincadeiras com as barbatanas. Recorda-se que o Anexo B-IV do Decreto – Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, aponta o golfinho comum Delphinus delphis como uma espécie animal de interesse comunitário que exige uma protecção rigorosa, por outro lado, a captura voluntária de cetáceos ou a comercialização de partes do corpo destes mamíferos marinhos constitui crime, severamente punido pela legislação portuguesa vigente.
Em 2006 a União Europeia notificou Portugal por incumprimento das directivas comunitárias de protecção dos cetáceos, tendo-lhe concedido um prazo para pôr termo a tais desmandos, que infelizmente parece não estar a surtir efeitos.A notificação da U.E. e esta sucessão de mortes, veio confirmar as preocupações da APCA, que ao longo dos últimos 8 anos, tem alertado constantemente, para a urgência dos Srs. Ministros do Ambiente e da Agricultura e Pescas, de Portugal e Espanha, em articulação com os pescadores locais, e os respectivos homólogos espanhóis definirem, com a máxima brevidade, as medidas adequadas de protecção dos mamíferos e répteis marinhos, no espaço marítimo do Norte de Portugal / Galiza, apontando a APCA, entre as medidas a adoptar, a criação de uma Reserva Marinha entre a Praia Norte (Areosa) e a Gelfa (Âncora), se na realidade se pretende evitar esta mortandade de cetáceos no Alto Minho.
Afife, 16 de Fevereiro de 2008 A Direcção da APCA